Não sei você, mas eu sou do tipo que se emociona com café. E essa semana teve novidade daquelas que fazem o coração bater mais forte: saiu um estudo novinho em folha, publicado na Scientific Reports (sim, um braço da poderosa Nature) que apresentou ao mundo a primeira roda sensorial feita só para ele: o coffea canephora, nosso conhecido canéfora, ou conilon, ou robusta.
O Brasil, com sua vocação cafeeira gigante e plural, finalmente tem uma ferramenta específica para descrever os sabores dessa espécie que é tão nossa — e que estava merecendo esse holofote há tempos. E por que isso importa? Porque a gente é bom nisso. Somos o maior produtor de café do mundo, exportamos grão e talento, e temos baristas incríveis. Nosso solo, nossa gente e nossa criatividade já transformaram o arábica brasileiro em ícone. Agora chegou a vez do canéfora brilhar com nome, sobrenome e 103 descritores sensoriais para chamar de seus.
Sim: cento e três descritores. A roda foi montada a partir da análise de 67 amostras de 13 países e envolveu 49 provadores profissionais — inclusive produtores brasileiros e importadores suíços. O estudo percebeu que os brasileiros tendem a valorizar mais o “doce”, enquanto os europeus se derretem pelo “frutado”. Uma diferença cultural que, convenhamos, só enriquece ainda mais a conversa sobre café.

E olha que curioso: os descritores mais destacados foram “torrado”, “doce”, “frutado” e “cacau”. Se você frequenta cafeterias especiais da capital, sabe que isso já mora nas xícaras há algum tempo — e agora tem nome, tem roda, tem chancela científica. É o tipo de pesquisa que não só ajuda a elevar o nível técnico da avaliação do café, como também dá voz (e aroma!) a uma produção que, por muito tempo, foi tida como de “baixa qualidade” — o que é, convenhamos, uma injustiça.
A roda sensorial do canéfora é mais do que uma ferramenta: é um reconhecimento. É o Brasil dizendo “nós produzimos isso aqui com excelência, com cuidado e com história”. É um passo essencial para inserir o conilon no mapa dos cafés especiais de forma justa e legítima. Porque ele pode sim ser especial, quando bem cuidado, bem beneficiado e, claro, bem degustado.
Então, da próxima vez que pedir um café em alguma das maravilhosas casas de Brasília, pergunta se tem canéfora no cardápio. Experimenta. Fecha os olhos. E tenta adivinhar se o que chegou na xícara foi mais “caramelo”, “cacau” ou “especiarias”.
E se descobrir outro descritor aí no meio, quem sabe não vira o 104 da lista? Afinal, o Brasil é café — e agora, com roda própria pra girar o mundo inteiro.
Até a próxima dose de Cafeína Pura!