Se você já foi ao supermercado e sentiu que o café está pesando mais no bolso do que na xícara, saiba que não está sozinho. Com pacotes de café tradicional ultrapassando os R$ 50, um novo produto começou a surgir nas prateleiras: o “pó sabor café”, que tem tudo para enganar os desavisados. O apelido de “cafake” não veio à toa—afinal, o que está dentro do pacote pode ter qualquer coisa, menos café de verdade. Não que os cafés commodities sejam bons, mas acredite: esse consegue ser ainda pior.
A jogada é sutil, mas eficaz. A embalagem tem cara de café, nome parecido com marcas famosas e até aquela clássica imagem da xícara fumegante, acompanhada por grãos estrategicamente posicionados. A informação de que aquilo não é café, mas sim um pó para preparo de bebida sabor café, fica escondida em letras miúdas, lá embaixo, onde quase ninguém lê. E como o preço é bem mais baixo — às vezes menos da metade de um café desses mais tradicionais — muita gente leva para casa sem perceber o truque.
Nem sempre há resquício de café de verdade na composição. Alguns desses produtos são feitos com cevada, milho e outros ingredientes que passam longe do que um bom barista chamaria de café. Em outros casos, há a tal da polpa do café, que inclui a casca da fruta.
A confusão não é nova. Quem nunca se enganou comprando “bebida láctea” achando que era iogurte? O jogo é o mesmo: um rótulo com palavras bonitas, embalagens chamativas e um precinho camarada. O problema? A experiência não tem nada a ver com a original.
O barista e mestre de torra Pedro Anjos, da Mokado Lab de Cafés, explica o cenário. “A pressão sobre os preços está intimamente ligada ao choque de oferta e a alta do dólar. Atualmente estamos com estoques quase zerados, ou seja, completamente entregues a volatilidade do mercado.”

Para quem não dispensa um bom café, a minha recomendação é simples: tome café especial. Compre de microtorrefações. Invista nas boas marcas que valorizam a qualidade do grão do seu café. Há diversas boas torrefações em Brasília (e no Brasil) que estão dispostas a te entregar o melhor, mesmo no meio dessa nuvem cinzenta no mercado do café.
“Como toda grande crise, só sairão vivos os mais bem adaptados. Aqueles negócios que conseguirão se adequar a nova realidade mais rapidamente, demonstrando e criando valor. Faz parte do processo e tenho certeza que a Mokado sairá bem dessa”, finaliza o campeão brasileiro de torra.

Leu até aqui e ainda assim quer comprar na gôndola do mercado? Olhe o rótulo! O café verdadeiro precisa ter apenas uma coisa na lista de ingredientes: café. Se aparecer qualquer outra coisa, já sabe: pode ser um cafake.
Inclusive, no último dia 19 de fevereiro, o Ministério da Agricultura e Pecuária apreendeu lotes do “café fake” que continham impurezas como cascas e apresentavam defeitos na embalagem. As amostras passarão por análise e, caso seja comprovada a violação das normas, podem ser recolhidas do mercado. No fim das contas, o barato pode sair caro — porque nada substitui o aroma, o sabor e a qualidade de um café especial de verdade. Então fica o alerta: nem tudo que parece café, é café.
Até a próxima dose de Cafeína Pura!